quarta-feira, 13 de abril de 2011

Palavra DE QUEM ENTENDE e tem CACIFE para comentar

PALAVRA DE QUEM ENTENDE E TEM CACIFE PARA COMENTAR:
A escritora e poetisa caxiense, professora especialista em Língua Portuguesa e Literatura, ÍRIS MENDES, comenta o espetáculo "Maria, Simplesmente M
aria".A peça teatral “Maria, Simplesmente, Maria!”, escrita e dirigida por Érika Veras de Almeida, que também atua no papel principal (Maria Padilha), é um retrato do Brasil do final do século XIX, um país miscigenado e, por conseguinte, multifacetado culturalmente,o que vai fornecer, a partir da matéria-prima do branco, do negro, do índio, do imigrante, a base para nossa antropofagia dar à luz à cultura tupiniquim.
O espetáculo é também um musical que mescla elementos de Romantismo e Realismo-Naturalismo, versando sobre um tema convencional – o amor.Muito além, outros temas de natureza, também universal, tecem o fio da trama, fazendo-a aportar nos dias atuais.Ressalte-se, nesta esteira, a escolha do nome Maria, que está para a Mulher, assim como o José Drummoniano está para o povo.O nome Maria que se anuncia no texto é plural, multirracial, mas a condição mariana é singular, ou seja, uma única situação aplica-se a todas as Marias (mulheres): a opressão e violência sistemática da sociedade machista.Nenhuma Maria seja indígena, africana, espanhola, francesa, brasileira, é poupada.O texto discute, portanto, não só a condição feminina, mas também a subversão, a insurreição contra essa ordem; o que traduz uma postura moderna (luta por liberdade e movimento feminista).E as Marias, a despeito das algemas, violência e exploração sexual a que são submetidas, não declinam dos seus sonhos: amor e liberdade.Foi assim que a mulher conquistou e ainda estar a conquistar o seu espaço. O texto faz refletir também sobre o tráfico de mulheres.Tal como Mariana, personagem da peça, muitas mulheres são raptadas, mediante o uso de violência, ou são atraídas por falsas promessas de emprego para o cativeiro da escravidão sexual.A prática, condenada pela sociedade, constitui um tipo penal (crime); mas este comércio não lograria êxito se não fosse alimentado por um mercado consumidor, constituído por fariseus. Quem são estes? Homens de dinheiro que frequentam “refinados” prostíbulos, internacionais onde muitas marianas são escravizadas, o que se verifica também no baixo meretrício, no cabaré da esquina...Quem abusa de Mariana? Um respeitável cidadão da sociedade brasileira, prostituída e prostituidora. Vós sois hipócritas!E esse viver Severo, Severino, josefino, é também mariano. Viver: brasileiro. A esperança, felizmente, é uma fênix contumaz.A peça “Maria, Simplesmente, Maria!” deixa uma mensagem otimista com a vitória e a recondução de suas personagens, bem como com a justiça aplicada a quem feriu vidas, bens e valores.
No mais, observo que os atores são jovens amadores e quero parabenizar Érika Almeida pela difícil missão de fazer teatro em Caxias e a façanha de lotar auditórios em suas apresentações, mesmo cobrando ingresso.Conheço a luta inglória de vários grupos.
Alguns, antigos sobreviventes; outros, já extintos. Todos sempre vegetaram sem apoio, patrocínio, so
mando-se a tudo isso o fato de nosso público não estar educado para apreciar o teatro. Muitas vezes, assisti a peças que contaram com uma platéia quase vazia, não obstante a entrada franca. Érika, você é Maria guerreira e vencedora. Estou na torcida.Minha estima para o ator Caio, meu ex-aluno.
Abraços Íris Mendes

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